À maneira do antigamente

 
Em rigorosa verdade não se trata exactamente o que se passava nas antigas praças de jorna do sul ou dos portos de mar de Portugal de meados do século XX. Os homens reuniam-se no largo ou no cais e aguardavam, por um capataz, maioral ou encarregado que a olho os escolhia e decidia se naquele dia, em troca de trabalho árduo, podiam ganhar algum dinheiro.

Quem fosse escolhido ganhava o dia, quem não fosse iria para casa e tentaria suportar a fome até ao dia seguinte.

Não é exactamente o mesmo porque agora se forem considerados dispensáveis vão para casa e recebem o salário, mas não o subsídio de turno nem o subsídio de refeição.

Chamam-lhe “Pool”, são de uma empresa de trabalho temporário e todos os dias têm de se apresentar ao “clerk” de uma zona da Autoeuropa que, mediante o feedback dos “team-leaders”, lhes comunicam se têm a sorte de trabalhar ou o azar de ter de voltar para casa apanhando o mesmo transporte em que vieram.

Voltam para casa e recebem o salário simples, logo não são os ganhões nem os estivadores de outrora mas as relações de trabalho ficam assim à distância do magro salário que auferem.

Não achamos correcto que para se poupar uns euros à conta de uns subsídios de turno e de refeição, se subvertam assim as relações de trabalho ainda por cima dificultando a vida e algumas tarefas aos que ficam a trabalhar, nomeadamente por que em simultâneo se extinguiram os postos de trabalho designados por “allowance” e que facilitava a substituição de algumas situações de absentismo e permitia a execução de algumas tarefas, acessórias mas necessárias que assim deixam de ter quem as faça.

Poupar está certo, reduzir custos também, mas à conta dos que menos ganham, dos que têm a situação mais precária?

Este não pode ser o caminho.